“…
nunca te falei de amor… tenho falado imenso sobre como amar ou sobre o
que é amar ou sobre a diferença entre o amar e o gostar… tenho falado
muito sobre como é que sabemos quando estamos a amar, quando sabemos o
que é amar… como é amar, porque amar é o único caminho… mas nunca te
falei de amor… nunca te falei desse sentimento lindo que me envolve numa
capa protectora e me faz sentir feliz e bem disposto… nunca te falei
desse sentimento tão nobre e tão belo que nos faz sentir o principe dos
contos de fadas… nunca te falei de amor apesar de já ter falado tanto de
como amar-te… é fácil amar-te… é bom amar-te… é tão doce saber que te
amo, que te estou amar como é doce saber que me amas, que me estás a
amar… é tão simples e tão perene o saber que amamos, que nos amamos, que
somos um só apesar de formados por dois seres distintos… é tão bom
amar-te… tão simples amar-te… tão doce saber-me amado… pois, mas nunca
te falei de amor… do que é o amor, de que é que ele é feito e do que é
que ele nos faz… como tenho dito, quando falo de amar, amar é sofrer,
por isso e em primeiro de tudo, o amor é dor… é uma dor que nos preenche
o peito e se alastra pela alma adentro como se de uma doença se
tratasse… depois, não tem cura e a febre sobe e o amor recrudesce e
enobrece quem ama… o amor é o fruto do acto de estarmos a amar… por
isso, o amor dói… é como se fosse um parto com dor, quando se ama… do
acto de amar nasce o amor e desse nascer, dessa alvorada de luz, a dor
povoa-nos e cerca-nos para o resto das nossas vidas… amar é tão simples,
tão fácil, tão bom, tão doce… é apenas doarmo-nos ao outro numa entrega
total e sem esperar nada no retorno… daí que seja fácil pois dar é
apenas uma acção… o amor é o que nasce, o que vem, o que surge dessa
acção, dessa atitude de dádiva… e, por isso, dessa dacção, dessa
entrega, algo sai de nós, algo se desprende de nós e é esse algo que
transforma o acto de amar numa dor profunda, numa dor quente, numa dor
sem dor mas que dói… e é nessa dor que sentimos que se ama, é no sentir
dessa dor que sabemos que estamos a amar e a sermos amados… é nessa dor
que se nos revelamos um ao outro com a fusão de dois seres num só… e
nessa fusão, o amor é… e ele só o é, ele só existe, ele só é real se nos
fizer doer… e quão purificadora é essa dor, quão sereno é esse sofrer,
esse acto de querer, esse acto de receber já que amar é dar, o amor é o
que se recebe e nesse saber que temos algo que nos é dado pelo outro,
sabemos porque a dor, a partir daí, se instala, vibra, arrepanha,
angustia, inebria também, anestesia-nos e a dor se transforma, por
aceitação, na mais doce forma de amarmos… se não sentires que te dói
então é porque não amas… bendita, pois, a dor que me invade, que me
transcende e me faz saber o quanto te amo!…”