Oscar Niemeyer, de 104 anos, morreu no Rio. O arquiteto estava
internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona
Sul da cidade.
Reconhecido internacionalmente por suas obras, Niemeyer completaria 105
anos em 15 de dezembro. A morte dele foi confirmada às 21h55.
Veja mais sobre a repercussão no Brasil e no mundo da morte de Niemeyer nos vídeos ao lado.
Perfil
Uma, duas, três curvas. Foi assim, quase que por acaso, em 1940, que
nasceu o desenho da Igreja da Pampulha. Ali nascia também a paixão pelo
caminho sinuoso.
“Eu procurei uma forma de arquitetura diferente, mais vazada, mais
leve, principalmente diferente, que construísse essa ideia de que
arquitetura é invenção. E esse foi o tipo de arquitetura que eu fiz, que
me agrada e venho fazendo a vida inteira”, afirmou Niemeyer.
O jovem arquiteto já havia feito outras obras e participado com
destaque da equipe de criação do prédio do Ministério da Educação no Rio
de Janeiro, mas vinha buscando uma expressão própria, uma marca, uma
assinatura.
“Eu queria uma arquitetura que não fosse, não lembrasse, uma
arquitetura feita com régua e esquadro. Uma arquitetura assim com mais
fantasia. Cada um faz o que quer e assim que eu faço a minha”, disse
Niemeyer.
A arquitetura de Niemeyer se casava perfeitamente com a imagem de um
Brasil que se modernizava. O governador que construiu o conjunto da
Pampulha em Belo Horizonte virou presidente. Juscelino Kubistchek
convidou o arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lucio Costa para um
sonho maior: em pleno cerrado, no coração do Brasil, fazer uma cidade
inteira.
“Quando eu chego perto de Brasília, parece um milagre. Eu fico
pensando, achando quase impossível o Juscelino ter feito aquela obra em
três anos e meio. Porque hoje, para a gente fazer dez edifícios, leva
uns três anos, dois anos, depende do ritmo. Mas Brasília tinha que fazer
as ruas, tinha que fazer tudo, uma cidade inteira”, explicou o
arquiteto.
Nas asas da cidade que Lucio Costa planejou, Niemeyer desenhou dezenas
de obras: praças, rampas, uma catedral, muitos palácios. “Acho que foi
uma coisa fantástica, foi um momento assim de otimismo, uma cruzada
assim fantástica, e mostrou pelo menos que a gente pode fazer as coisas
também”, disse.
Quando veio a ditadura militar, Niemeyer, comunista por ideologia, foi
vigiado e perseguido. Passou longo tempo fora do Brasil. “O clima ficou
ruim para mim... Eu fui para fora. De modo que eles queriam me
paralisar, me deram a possibilidade de mostrar no exterior a minha
arquitetura”, afirmou.
Suas curvas ganharam o mundo: ele tem obras na Itália, na Argélia, na
França, na Espanha. Niemeyer sempre se orgulhou de lutar por mundo mais
justo. Jamais pensou em acumular bens. O dinheiro que ganhava com
grandes projetos usava também para ajudar os amigos.
Quando soube que o líder comunista Luís Carlos Prestes não tinha onde
morar, comprou um apartamento para ele. O motorista do arquiteto ganhou
uma casa projetada por ele na favela do Vidigal.
Diante da bela paisagem da Princesinha do Mar, o escritório de
Copacabana era o local de encontro dos amigos, do debate, dos estudos,
da livre circulação das ideias. E as ideias desse nosso mestre das
curvas pareciam jamais se esgotar.
Para São Paulo, o Memorial da América Latina. Para Curitiba, um olho
gigante para abrigar a arte contemporânea. Para Niterói, um disco
voador, pousado às margens da Baía de Guanabara.
Para quem sempre disse que a vida é um sopro, que o homem é um grão de
poeira no imenso universo, Oscar Niemeyer parecia sempre ultrapassar
barreiras da idade, os limites do tempo.
Aos 99 anos se casou novamente, com Vera, a companheira de uma vida de
trabalho. Aos 100, confessou que se sentia como se tivesse apenas 60
anos e fez festa na bela Casa das Canoas, que construiu no Rio, entre as
pedras e a mata, 50 anos antes.
Com 101, lá estava ele, supervisionando obras. Estava no show do amigo
Chico Buarque em 2011, e, no calor do verão de 2012, admirando a
ampliação da Passarela do Samba.
Surpreendente? Genial? Fora do comum? Ele não se achava nada disso. “Um
homem comum que trabalhou como todos os outros, que passou a vida
debruçado na prancheta e se interessou pelos mais pobres, que amou os
amigos, a família, como a maioria, nada de especial”.