Recolha e ordenação de Helena Emilia.
Um dos maiores males da humanidade, a partir da revolução industrial, é o aparecimento da depressão. Veio como conseqüência de um novo modelo de sociedade imposta a homens e mulheres que passaram de sujeitos e peças de linhas de montagem. De protagonistas de suas vidas a seres cabresteados.
Com essa perda de autonomia houve
uma castração da dimensão criativa e criadora das pessoas. Deixaram de
visualizar e conceber o todo de suas obras, passando a meros parafusadores do
pé de um lado da mesa. Não sabem mais como se faz toda a mesa...
Essa forma perversa de tratar os
trabalhadores começou a fazer da compreensão de mundo que as pessoas passaram a
ter. Conseqüentemente, mudaram as relações sociais e familiares. Essa redução
do ser humano, determinada pelo capital, diminuiu também a qualidade e a
essência das relações interpessoais.
A sociedade passou a experimentar
um desconforto implícito, presente e escondido, que parecia não se saber como e
de onde vinha. Só se sentia.
Alexandre Lorwen, médico
terapeuta e autor do método terapêutico chamado bioenergética, diz que a falta
de expressão (da auto-expressão) é uma da causas da depressão. Em seu livro
Prazer: uma abordagem criativa da vida, Lowen fala do prazer, não o
relacionamento à lascividade ou ao pecado, mas o prazer sinônimo de alegria e
plenitude, a origem dos bons sentimentos e pensamentos. A ausência do prazer
gera rancor, frustração e ódio, com a conseqüente perda do potencial criativo e
a autodestruição.
O processo criativo esta
diretamente relacionado ao prazer e à alegria. A pessoa viva é sensível e
criativa. Tem um brilho nos olhos, vitalidade na expressão facial, seus
movimentos são leves e fluem. A depressão é o contrario de tudo isso! A
mobilidade e a espontaneidade são menores nos estados depressivos.
Precisamos estar atentos aos
nossos sentimentos. O primeiro passo é não fugir das nossas emoções, reconhecê-las
e aceitá-las para, num momento posterior, poder expressá-las com certa
tranqüilidade. Mas a nossa sociedade nos joga pra fora de nós, pra outro lugar.
A realidade social construída em cima do poder econômico nos torna apenas
consumidores: consumo exagerado como forma de compensação, busca de poder sem
se saber mesmo para quê, ditaduras de imagem do corpo, das casas, carros,
celulares com inúmeras funções (que não iremos usar, mas precisamos tê-los),
enfim, tantas coisas que não necessitamos, mas se não as tivermos seremos
infelizes. E parece que as pessoas não são capazes de perceber que assim é que
são infelizes.
O ser humano é reduzido! Para nos
tornarmos consumidores, precisamos atender algumas exigências: renunciar a
dimensão divina, especial e passarmos a nos comportar conforme as regras: ser
competitivo, solidário e predador de sua própria espécie, como podemos observar
no trânsito, nas empresas, nas escolas, como se a vida fosse um jogo de
videogame em que, para se passar de fase, devêssemos eliminar um grande número
de concorrentes! Que pena... Tristeza e sensação de vida vazia como sentimento
constante. Desejo de superar o outro... É esse o caminho? Certamente que não!
Não existem respostas prontas,
mas sim algumas que podemos nos fazer e provocar uma reflexão que possa nos
movimentar. Sozinhos não podemos caminhar. Precisamos uns dos outros, como
dizia o publicitário Carlito Maia. A solidariedade é uma das questões que se
coloca. A outra é o quanto estamos em contato com nossos reais sentimentos e o
que fazemos com eles. Somos fiéis a nós mesmos? Conseguimos viver no coletivo
com solidariedade e respeito às diferenças? Escondemos o que sentimos de nós e
dos outros? Nos deixamos seduzir pelos apelos que um mundo que apenas nos quer
consumidores e seres sem reflexão?
Vamos adotar uma atitude de
coragem e abertura diante da vida e seus desafios! Não coadjuvantes, mas
protagonista que buscam a felicidade de sua própria espécie.
Helena Emilia.
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