É um facto insofismável que a expressão primeira vez consubstancia, no seu imo, sensações e interpretações díspares, consoante o indivíduo. A todos nós é impossível olvidar a primeira vez que entrámos numa sala de aulas ou a primeira vez que os nossos lábios tocaram os seus congéneres, na pessoa amada. A emoção que a nossa progenitora sentiu ao ver-nos gritar, a plenos pulmões, quando acabamos de nascer, é provavelmente a sensação mais marcante do ser humano.Exactamente por isso, entendi que nesta minha primeira colaboração neste órgão de comunicação social, que agora se apresenta perante os seus olhos, seria de todo interessante dar-vos a conhecer a minha primeira vez.
Estava
extremamente nervoso, do género de sentir o coração a palpitar, tal como
acontece quando entramos num local escuro e desconhecemos o que iremos
encontrar. Afinal de contas, era a minha primeira vez e, pelo menos, merecia
passar por um simples ataque de ansiedade. Jurei a mim mesmo que iria ser forte
e não transparecer o que me ia na alma, no espaço mais recôndito do meu ser.
Era, como dizia o povo com sabedoria incomparável, maior e vacinado pelo que,
para além de tudo o que de bom isso significava, tinha uma outra face menos
positiva – ter de enfrentar as dificuldades de frente e inteiramente sozinho. E
aí estava ela à minha frente, encarando-me com uma expressão algo intimidativa,
como quem afirma pujante: a bola está do teu lado!
Bem
sei que a maior parte do esforço me competia, mas ela podia colaborar um pouco
mais. Tentei a primeira vez, mas em vão. Mais uma ou duas tentativas e acabei
por desistir. Não valia a pena insistir mais pois a cada minuto que passava
mais complicado me parecia. Acima de tudo, sentia que, sendo a primeira vez,
tudo teria de correr na perfeição, até porque iria ficar marcado na minha
história pessoal (atrevo-me, até, a dizer, no currículo da vida) até ao fim dos
meus dias. Mais tarde voltei a encará-la, com carinho, mas destemido e tudo foi
diferente.
De
forma fluida preenchi aquela mancha branca imaculada à minha frente. Tinha
conseguido. Sentia-me exausto, mas satisfeito comigo mesmo. Os medos faziam
parte do passado. Voltei a ela, uma vez mais, desta feita com uma rapidez
invulgar. Sim, definitivamente, estava tudo conforme pretendia. Arrumei a
caneta, dobrei a folha de papel e coloquei-a no envelope, por forma a enviá-la
ao director do jornal. Tinha terminado a minha primeira crónica, por sinal esta
mesmo que o estimado leitor tem na sua frente.
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