Não sei tão pouco como começar. E, para ser ainda mais objectivo, não sei como terminar. Desta vez decidi escrever sobre nada, rigorosamente nada. Deverão estar a indagar-se acerca da minha sanidade mental. Ou, ainda, acreditar que é tão louco aquele que escreve como o que está a perder o seu precioso tempo a ler. Proponho um desafio: vejamos quem consegue aguentar mais tempo, se o leitor se o autor. Porque, parecendo que não, o nada é uma mão cheia de completo vazio. Ou, para sermos ainda mais rigorosos, sabemos, hoje em dia, que o nada é igual ao zero, o que revela que nada é afinal alguma coisa. Quanto mais não seja, é o vácuo.
Atentemos no vazio que preenche totalmente o interior do estômago de milhões de crianças por esse mundo fora. É tão comum ouvir-se a expressão correcta, aliás, de que essas crianças estão cheias de fome. Cheias? Então se o estômago está completamente vazio, como podemos considerá-lo cheio? Preenchidas por nada seria outra definição extremamente acurada.
Temos,
também, felizmente, a noção inversa. Quando alguém afirma que fulano nunca fez nada na vida, pretendemos
afirmar que foi, em palavras vulgarmente utilizadas, uma espécie de parasita que, para sobreviver na vida,
utilizou-se, indevidamente ou não, de alguém (ou de muitos alguéns) para continuar o seu caminho. Mas como se pode trilhar um
percurso sem o fazer? Como conseguimos viver sem nada fazer? Então, a própria
essência da vida, não representa, por si mesmo, já um ato concreto de feitura
de algo?
Porque
razão estará este sujeito a discorrer sobre algo que, à partida, seria tão útil
como a própria noção do tema? Talvez pretenda demonstrar que aquilo que, de
forma comum, entendemos como vazio absoluto representa, apenas por isso, algo
de concreto que, de forma antagónica, o suprime desse irrelevante papel de
nulidade. Por outro lado, talvez pretenda demonstrar com factos e pormenores
subliminares que é possível escrever sem dizer-se absolutamente nada.
A
expressão falas muito mas não dizes nada
surge do seio do povo e só por isso torna-se automaticamente avalizada. Mas,
hoje por hoje, torna-se de tal forma corriqueira a sua adaptação ao setor da
escrita que infelizmente esta realidade suplantou a anterior.
Como
tal, deixo já aqui a minha vontade expressa em que, toda e qualquer crónica,
tenha sempre algo de relevante a dizer. Porque, a não ser assim, mais vale não
fazê-lo. E, se me é permitido, antes de terminar quero apenas congratulá-lo,
caro leitor, que chegou ao mesmo tempo que eu ao fim do artigo.
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